Em 1999, durante uma degustação na SOAVI (SOCIEDADE AMIGOS DO VINHO) em Poços de Caldas, o médico e empresário Marcos Arruda Vieira se interessou pela ideia do engenheiro agrônomo, Murillo de Albuquerque Regina. A ideia em questão era a de alterar o ciclo da videira para que a maturação das uvas ocorresse no inverno, quando o clima é seco, os dias ensolarados e as noites frias. Condição muito semelhante as das maiores regiões vitivinícolas do mundo.
Marcos, interessado na ideia propôs ceder terras em sua fazenda de café, a fazenda da Fé em Três Corações, para que testassem na prática a ideia de Murillo.
Murillo estava com viagem marcada para concluir o seu pós-doutorado na França, então os dois assumiram um compromisso: Murillo traria as mudas de videira da França quando retornasse, e Marcos iria ceder a terra para que se iniciasse o projeto.
Ao chegar em território francês, Murillo contou sobre a ideia e sobre o entusiasmo no projeto com seu sócios, Patrick Arsicaud e Thibaud Salettes, que se dispuseram a fornecer as primeiras mudas de videira para o projeto. As mudas em questão seriam as que estivessem “sobrando na câmara fria”. Coincidentemente, mudas da uva Syrah.
Ao retornar para o Brasil em 2001, Murillo, Marcos, Thibaud e Patrick iniciaram o plantio do vinhedo em Três Corações, começando ali o pioneirismo da Vinícola Estrada Real na colheita de inverno através da técnica da dupla poda da videira.
Em 2003 ocorreu a primeira safra experimental, e em 2004 a ampliação dos vinhedos, porém, apenas em 2010 foi quando foi quando se produziu o primeiro vinho que chegou ao mercado consumidor. Este vinho é lembrado por muitos como um marco divisor na história do vinho Brasileiro, o primeiro vinho de colheita de inverno a chegar ao mercado. Hoje a Estrada Real possui vinhedos também em São Gonçalo do Sapucaí e Caldas. Em Caldas, no Sítio Carvalho Branco, encontramos o Winebar da Vinícola Estrada Real. Um lugar aconchegante e encantador, localizado a 1200m. de altitude, na Serra da Mantiqueira, para quem pensa em uma boa gastronomia, com excelente harmonização através dos vinhos da Vinícola. Uma degustação guiada, sob o comando do Sommelière Sávio Garcia é oferecida aos visitantes. Fizemos essa degustação e pudemos por várias horas desfrutar das informações excelentes que o Savio nos proporcionou a respeito da Vinícola e de seus vinhos diferenciados. Falaremos sobre eles nos próximos posts. Indico aos apreciadores de bons vinhos e de excelente gastronomia, uma visita à Estrada Real em Caldas. Horário de Funcionamento: sexta: 11h às 16h, sábado e domingo: 11h às 18h. Reservas pelo número (35) 99972-1948.
A história da Vinícola Casa Geraldo começou em mil novecentos e sessenta e nove com Geraldo Marcon, descendente de italianos que carregava no sangue o amor pela vitivinicultura, que adquiriu a Fazenda São Geraldo e o Sítio Bom Fim, onde passou a cultivar uvas para produção de vinhos. Geraldo gerenciou a pequena vinícola vendendo sua produção a granel para outras vinícolas da capital paulista até o ano de sua morte 1978, quando seu filho Luiz Carlos assumiu a vinícola dando continuidade ao trabalho do pai.
Mais tarde Luiz trouxe para dentro da vinícola seus 3 filhos (Carlos Geraldo, Luiz Henrique e Michel). Os irmãos foram crescendo e cada um foi assumindo uma função dentro da empresa. Carlos o mais velho se formou em química e se encarregou de toda fabricação do vinho. Luiz Henrique se formou em Engenharia de alimentos, porém sua paixão pelo campo e pela viticultura o levaram a tomar conta dos vinhedos. Michel se formando em administração se tornou o responsável por toda parte financeira e administrativa da empresa.
Em 1993 com a necessidade de atingir diretamente os mercados, nascia a marca de vinhos Campino onde seus produtos eram exclusivamente vinhos de mesa. Com o crescimento das vendas foi necessário a compra de uva para suprir a demanda da vinícola e essa era trazida em caminhões do Rio Grande do Sul para Andradas.
No ano de 2.000 acompanhando o aumento na demanda do vinho fino Luiz Carlos resolve apostar nessa nova tendência e no ano seguinte nascia a nova marca de vinhos Casa Geraldo, no início com apenas 3 rótulos varietais (Cabernet, Merlot e Moscato Giallo), vinhedos dessas variedades simultaneamente eram implantados, porém devido as dificuldades do clima de verão não tiveram grande sucesso, sendo assim as uvas continuavam a serem trazidas do Rio Grande do Sul.
Vendo a necessidade de impulsionar o consumo de vinhos e alavancar a venda no varejo Luiz Carlos inicia o projeto Casa Geraldo Turismo Enogastronômico com inauguração em 9 de julho de 2003, uma aposta visionária para época, mas que com o passar dos anos se mostrou de extrema importância para o crescimento da marca e divulgação de seus vinhos.
Em 2010 Luiz Carlos deixa a administração da empresa para seus filhos que iniciam uma nova era de inovações e tecnologias. Acompanhando as recentes pesquisas sobre a inversão do ciclo da uva conhecida por Colheita de Inverno, os irmãos Marcon resolveram investir todas as fichas nesse novo e audacioso projeto. Em 2012 a primeira inversão de ciclo é feita na vinícola e com a qualidade do vinho obtido resolvem arrancar todos os vinhedos de variedades Vitis lambruscas para darem lugares a diversas variedades Vitis viniferas.
Em 2015 devido ao aumento do fluxo de turistas, o complexo turístico sofre diversas reformas e ampliações. Novos passeios e novas áreas de recreação são criadas.
Nos anos seguintes novos vinhedos são implantados e com isso novos e sofisticados vinhos com Terroir são lançados. Não tardou e os resultados apareceram na forma de premiações, dezenas e dezenas de medalhas em concursos nacionais e internacionais foram ganhas tanto nos vinhos quanto nos espumantes elaborados pela vinícola. Hoje nossa carta tem mais de 60 rótulos que agradam os mais exigentes paladares.
A Casa Geraldo continua a produzir vinhos com uvas da Campanha Gaucha, diferenciando os produzidos com uvas locais com a denominação indicada no rótulo de vinho de inverno
Um pouco da História da Stella Valentino. Descendentes de italianos, a família Stella veio para o Brasil por volta de 1888 com o objetivo de trabalhar nas lavouras de café dos Barões da região de divisa dos estados de Minas Gerais e São Paulo. Chegaram em Andradas junto com outras 250 famílias, deram início à produção própria de café, única fonte de renda da família na época e plantavam uvas para a produção de vinho no intuito de consumo próprio .Com o fim da produção do café, tais lavouras deram lugar às parreiras de uva que eram vendidas para adegas. Andradas na época contava com diversas adegas e era referência na produção de vinho. Com o passar dos anos, tal cultura foi perdendo forças e o vinho passava a ser buscado no Rio Grande do Sul e comercializado em terras andradenses.
José Procópio Stella se formou em 1972 no curso de agronomia, com a finalidade de trabalhar com a produção de uva e vinho, mas não encontrava trabalho. Construiu sua vida profissional em outro meio, até que em 2002 inicia o projeto de produção de vinhos finos. Nasce a Vinícola Stella Valentino. Durante a degustação ouvimos do Procópio toda a sua saga para buscar a qualidade de seus vinhos, especialmente o pioneirismo da produção de Tempranillo.
O projeto conta com a produção dos Vinhos Sauvignon Blanc, Syrah, Tempranillo e Marsanne. Um projeto de estrutura tradicional, que contrasta com a modernidade das adegas em construção, a tecnologia na vinificação e seus vinhedos.
Uma antiga casa construída pelo tetravô de José Procópio Stella mantém viva as raízes da família Stella Valentino. Um ambiente tranquilo, preservado para a degustação. E as raízes não param por aí. Cada vinho recebe o nome de um membro da família. Valentino Stella, tetravô, batiza a marca. Modestus vem de Modesto, bisavô de José Procópio. Ângelo, irmão de Modesto, dá nome ao Angelus e o resgate da família Stella Valentino se mantém forte nessa história.
Uma visita obrigatória em Andradas!
Vinícola & Hospedaria Bonventi é tudo de bom: a recepção, o carinho dos funcionários, a excelência da cozinha e as instalações. Juliana e Alex, amantes do vinho e do café, instalaram-se há 5 anos em Espirito Santo do Pinhal, para realizar seus sonhos. A identidade do projeto leva o sobrenome e o brasão da família em cor de cobre, estampado na entrada.
O projeto de vinhos, na sua segunda safra, conta com área plantada de Syrah-1 ha, Sauvignon Blanc-1 ha, além de algumas centenas de mudas de Merlot, Cabernet Sauvignon e Viognier. Conta ainda com parceiros da região fornecem as uvas e vinhos para completar um portfólio ainda em desenvolvimento. A produção é de 5.500 garrafas do Syrah; 2.500 garrafas de Sauvignon Blanc ; 3000 garrafas de Cabernet Sauvignon e 3.800 garrafas de um blend de Syrah, Grenache e Marselan. Os rótulos estão em fase de definição.
Ao lado dos vinhedos existe uma plantação de Café Arábica Mundo Novo, com 4,7 hectares, produzindo um excelente café, que degustamos e compramos.
A hospedaria conta com cinco suítes, sendo duas com 50m2 e três com 45m2, todas com nomes de uvas (fiquei na Merlot) com uma vista belíssima para os vinhedos.
Na Osteria oferecem massas preparadas artesanalmente no local e com pratos exclusivos como o Gnocchi ao molho rústico, onde a Chef Mayra Arlanch tem a receita exclusiva e ninguém pode ver o preparo da pasta. O centro gastronômico funciona para almoço e jantar, sob reservas, e, ao final da tarde, haverá um cardápio exclusivo para o sunset. O imenso salão, totalmente envidraçado, favorece a vista do maravilhoso pôr do sol para quem prefere um ambiente mais aconchegante.
Vale a pena conhecer e desfrutar dessa maravilha.
FALANDO DA SANGIOVESE
A Sangiovese é a uva mais plantada na Itália e, mais do que isso, representa uma das principais regiões vinícolas do país. Se o Piemonte tem a Nebbiolo e o Etna a Nerello Mascalese como uvas símbolo de sua viticultura, a Toscana tem a Sangiovese como sua variedade emblemática. Suas principais denominações de origem, como Brunello di Montalcino, Chianti Classico e Nobile de Montepulciano utilizam a Sangiovese como uva base. Deste modo, para muita gente, a Sangiovese representa a máxima expressão da tipicidade do vinho toscano.
As primeiras menções a esta variedade datam de 1600, em um livro chamado Coltivazioni Toscane, onde era citada como Sangiogheto, até hoje um de seus sinônimos. Mas muita gente foi além, acreditando que a Sangiovese tem um vínculo histórico ainda mais longo com a Toscana. Ela seria cultivada localmente já pelos etruscos, antes, portanto, do surgimento do Império Romano. Embora sem comprovação científica, esta relação entre Sangiovese e Toscana sempre foi quase simbiótica. Ao menos até que a genética entrasse em campo.
Buscando as origens
Em um país com imensa diversidade de uvas como a Itália, buscar a origem de suas principais variedades autóctones é uma tarefa complexa. Porém, ao contrário do passado, onde referências históricas e estudos ampelográficos (análise das folhas videiras) eram as principais fontes, o desenvolvimento de novas técnicas na genética facilitou muito o caminho. Se o uso de testes genéticos para definir paternidade entre humanos se tornou comum, o mesmo ocorreu com as variedades de uva.
Um estudo publicado em 2002 foi pioneiro em relação à Sangiovese. Ele mostrou que a uva mais plantada na Itália tem uma relação direta (seja como ascendente ou como descendente de primeiro grau) com a Ciliegiolo, uma variedade bastante comum na Toscana. Vale lembrar que, na ausência de uma terceira uva geneticamente relacionada e/ou de um horizonte temporal definido, não era possível desvendar se a Ciliegiolo seria “mãe” da Sangiovese, ou vice-versa.
Com a comprovação científica do parentesco genético entre ambas, começou a corrida para descobrir qual seria a terceira uva com relação genética próxima. De uma só vez, isso poderia resolver dois mistérios. Em primeiro lugar, qual o parentesco entre ambas e, ainda mais importante, ajudar a definir a árvore genealógica da Sangiovese.
O elo perdido
E onde buscar o elo perdido, a uva que poderia ajudar a decifrar as origens da Sangiovese? Uma das alternativas mais óbvias era consultar a coleção de perfis genéticos de um dos maiores especialistas do mundo no assunto, o suíço José Vouillamoz. O coautor (juntamente com Jancis Robinson) da mais respeitada obra sobre varietais no mundo é guardião de mais de 3.000 perfis genéticos de uvas, com grande presença de varietais italianos, até por trabalhos prévios seus nesta área.
Inicialmente, Vouillamoz buscou identificar combinações onde a Ciliegiolo fosse descendente da Sangiovese, mas não achou qualquer variedade que pudesse preencher a lacuna. Ao usar o raciocínio inverso, porém, quatro candidatas surgiram: as tintas Calabrese di Montenuovo e Palummina Mirabella, além das brancas Malvasia Bianca e Bombino Bianco.
Em 2004, Vouillamoz anunciou o elo perdido. Ele mesmo ficou surpreso com o resultado, o que o levou a fazer uma análise ainda mais rigorosoa, que confirmou sua pesquisa inicial. Para espanto de muitos, a Sangiovese é o resultado do cruzamento natural entre a toscana Ciliegiolo e a Calabrese di Montenuovo, que, como o nome indica, é originária da Calábria. Deste modo, a uva mais símbolo da Toscana tem origens, ao menos parciais, no sul da Itália.
Calabrese di Montenuovo?
A presença da obscura Calabrese di Montenuovo como ascendente direta da Sangiovese causou verdadeira comoção. Que uva seria esta? Quais suas origens? Curiosamente, esta variedade fazia parte do amplo catálogo de perfis genéticos de Vouillamoz por conta do trabalho de uma de suas alunas de Doutorado, a italiana Laura Constantini. Em seus trabalhos anteriores analisando as uvas da região da Campania, na Itália, ela se deparou com uma variedade única.
Em um vinhedo isolado na região da baía de Napoles, mais especificamente em uma colina ao lado do Lago d’Averno, ela identificou uma variedade diferente. Esta colina é chamada de Montenuovo, pois surgiu de uma erupção vulcânica (a região fica perto do Vesúvio), sendo cultivada pela família Strigari, originária da Calabria. Na hora de dar nome a esta uva, que não foi identificada em outras partes da Itália, a associação entre nome de local e origem dos viticultores foi a melhor alternativa.
Portanto, esta obscura variedade acabou se mostrando como a “mãe” da mais plantada variedade italiana. Embora existam pesquisas apontando outras uvas como alternativas, Vouillamoz é firme ao defender suas conclusões. Para ele, não há dúvida de que a Sangiovese tem raízes no sul da Itália, até porque duas das mais valorizadas uvas da Sicília, a Frappato e a Nerello Mascalese, são descendentes diretas dela.
Fontes: Il Sangiovese è per metà calabrese, Vouillamoz, Monaco, Costantini, Zambanini, Stefanini, Scienza, Grando (2008); Genetic Super-Sleuthing: Sangiovese, Garancha and Tempranillo, Vouillamoz, Wine Scholar Guild
Texto publicado no Wine Fun, o portal mais completo sobre vinhos no Brasil. Capitaneado por Alessandro Tommasi
Pois é…foram arquivos de milhares de posts perdidos. Fomos rackeados e todos os nossos registros desapareceram. Vamos recomeçar, com o mesmo propósito: divulgar a cultura do vinho por meio de artigos, degustações, confrarias, notícias…e tudo mais que integre essa cultura. Se você que era nosso seguidor tiver algum registro que nos possa ajudar na recuperação agradecemos o envio. Algumas coisas que mantemos em registros e arquivos iremos republicar. Para a frente…PER BACCO!